Relatório mostra alerta: chuvas atrasam Safra 2025/26 e desafiam o setor sucroenergético

Relatório da UNICA mostra queda de 20% na moagem de cana, atrasada por chuvas fora de época. A produção de açúcar e etanol recua, enquanto o etanol de milho avança e gera créditos de descarbonização que aliviam parte das perdas.

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A cana-de-açúcar é a base do setor sucroenergético brasileiro, movimentando bilhões na produção de açúcar e etanol a cada safra.

A cana-de-açúcar é o coração do complexo sucroenergético brasileiro, sustentando desde o café da manhã açucarado até o abastecimento de etanol nos postos. Porém, o primeiro balanço quinzenal da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), divulgado em 29 de maio de 2025, revela que a nova safra 2025/26 começou com fôlego curto.

Entre 1.º de abril e 16 de maio, as usinas da região Centro-Sul processaram 76,71 milhões de toneladas de cana, 20,24% abaixo do mesmo período do ciclo anterior .

Esse freio inicial preocupa porque a safra da Centro-Sul responde por quase 90% da produção nacional. Instituições como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), responsável pelo monitoramento agronômico, e a própria UNICA atribuem o recuo a chuvas fora de época que atrasaram o corte e reduziram o teor de açúcares Totais Recuperáveis (ATR).

A B3, bolsa de valores brasileira que negocia os Créditos de Descarbonização (CBios) gerados pelo etanol, acompanha esses certificados e pode mitigar parte dos impactos financeiros ao setor.

Moagem em queda: o que os números dizem

A retração de 6,09 % na moagem apenas na primeira quinzena de maio, 42,32 milhões de toneladas contra 45,06 milhões um ano antes , deu o tom para o período. Como consequência, a produção de açúcar caiu 6,80 %, somando 2,41 milhões de toneladas, e o volume acumulado desde o início da safra encolheu ainda mais, 22,68% .

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As usinas processadoras enfrentam desafios com a menor moagem de cana, afetando a produção e a qualidade do açúcar e do etanol na safra 2025/26.

Além do menor volume, a qualidade da matéria-prima também foi afetada. O ATR médio recuou para 116,80 kg/t, 6,37 % inferior ao observado em 2024/25, o que reduz a eficiência industrial. Diante desse cenário, as usinas optaram por direcionar ligeiramente mais cana para açúcar (48,61 % do mix) do que para etanol (51,39 %), numa tentativa de preservar margens em um mercado internacional de adoçantes aquecido .

Etanol em transformação: milho ganha espaço

A produção total de etanol na quinzena atingiu 1,78 bilhão de litros, queda de 11,29 % ante 2024/25. Do volume, 1,16 bilhão foi de etanol hidratado (–8,11 %) e 616,78 milhões de anidro (–16,72 %) . A grande novidade é o salto do etanol de milho: 359,9 milhões de litros na quinzena, 21,4 % acima do ano anterior, elevando sua fatia a expressivos 20,23 % do total .

Destaques do biocombustível:

  • Etanol de milho acumulado: 1,08 bilhão L (+27,8 %)
  • Vendas totais na quinzena: 1,34 bilhão L (–5,1 %)
  • Etanol anidro no mercado interno: +2,2 %
  • Etanol hidratado no mercado interno: –10,4 %

Esses números indicam que as usinas flex e destilarias dedicadas estão compensando parte da menor oferta de cana com grãos, estratégia que ganha força com a expansão do cinturão de milho em Mato Grosso e Goiás. Para o consumidor, a maior disponibilidade de anidro garante mistura estável na gasolina, mas o recuo do hidratado pode pressionar preços nas bombas se a safra seguir aquém do esperado.

Preços, clima e sustentabilidade

Embora a perda inicial pareça significativa, especialistas lembram que a safra é longa e pode recuperar terreno caso o clima se torne mais seco no inverno. No entanto, se o atraso persistir, o Brasil poderá exportar menos açúcar e precisará importar gasolina A para cumprir a mistura, encarecendo combustíveis. Esse risco se soma à volatilidade cambial e à expectativa de crescimento da demanda global por açúcar.

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A indústria da cana-de-açúcar enfrenta o desafio de se reinventar, buscando soluções para reduzir perdas e garantir sustentabilidade.

Do lado ambiental, a boa notícia vem do RenovaBio: até 26 de maio, produtores já emitiram 17,56 milhões de CBios, e 69 % da meta anual está coberta . Se os créditos continuarem disponíveis, o setor terá um colchão financeiro para atravessar a safra mais curta, reforçando a transição para energias limpas.

No longo prazo, porém, somente práticas agrícolas mais resilientes às chuvas fora de época, como variedades de cana tolerantes a excesso hídrico e manejo de solo que facilite drenagem, poderão blindar a principal fonte de bioenergia do país.

Referência da noticia

Relatório quinzenal de acompanhamento de safra - Safra 2025/26 (até 16/05/2025). 29 de maio, 2025. União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA)