Fruta-do-monge e figueira: uma parceria que promete agitar a agricultura natural

Pesquisadores chineses descobriram que a figueira pode estimular ou inibir o crescimento da fruta-do-monge, dependendo da dose. A descoberta pode mudar a forma como plantas medicinais são cultivadas em sistemas agroflorestais sustentáveis.

Figo, figueira
Figueira (Ficus carica), planta medicinal com potencial alelopático em sistemas agroflorestais.

O cultivo de plantas medicinais dentro de florestas vem se destacando como uma das estratégias mais promissoras para aliar produção agrícola com preservação ambiental. Ao transformar áreas verdes em verdadeiros laboratórios vivos de biodiversidade, os sistemas agroflorestais estão mostrando que é possível produzir mais com menos impacto ambiental.

Um estudo recente, publicado na revista Scientific Reports, chama a atenção para uma dupla inusitada que pode trazer muitos benefícios à agricultura: a fruta-do-monge (Siraitia grosvenorii) e a figueira (Ficus carica).

O trabalho investigou como extratos do caule da figueira afetam o desenvolvimento da fruta-do-monge, uma planta medicinal e adoçante natural com uso crescente na alimentação saudável. Os resultados revelaram um equilíbrio delicado: quando usada em baixas concentrações, a figueira ajuda a fruta-do-monge a crescer mais forte e saudável, mas em doses maiores o efeito se inverte e a planta começa a sofrer.

O que acontece quando uma planta influencia a outra

Você sabia que as plantas podem se ajudar ou atrapalhar apenas pelas substâncias que liberam no solo ou no ar? Isso se chama alelopatia, um processo natural que acontece em florestas, campos e até mesmo no seu jardim. Algumas plantas liberam compostos que estimulam o crescimento de outras, enquanto outras podem impedir que as vizinhas prosperem.

monge, fruta
Fruta-do-monge (Siraitia grosvenorii), planta adoçante natural sensível a interações alelopáticas em cultivos consorciados.

No caso da fruta-do-monge e da figueira, os cientistas observaram que extratos do caule da figueira, quando aplicados em baixa concentração, aumentaram a taxa de germinação das sementes da fruta-do-monge e promoveram o crescimento das mudas. Mas à medida que a concentração do extrato aumentava, os efeitos benéficos desapareciam e davam lugar a sinais de estresse, como dificuldade de crescimento e alterações fisiológicas. Esse tipo de conhecimento pode ser essencial para planejar cultivos consorciados de forma eficiente.

Por que plantar diferentes espécies juntas pode ser melhor

A ideia de cultivar diferentes plantas no mesmo espaço não é nova, mas está voltando com força na agricultura sustentável. Os chamados sistemas agroflorestais reúnem árvores, arbustos e culturas agrícolas em uma mesma área, criando um ecossistema mais equilibrado e produtivo. A pesquisa sobre a fruta-do-monge e a figueira mostra como esse tipo de combinação pode funcionar na prática.

Veja algumas vantagens de sistemas agroflorestais com plantas medicinais:

  • Aproveitamento mais eficiente da luz, da água e dos nutrientes do solo
  • Redução do uso de agrotóxicos por meio do controle natural de pragas
  • Melhoria da fertilidade e da biodiversidade do solo
  • Produção de alimentos e remédios naturais no mesmo espaço
  • Maior resiliência frente a eventos climáticos extremos

Esses sistemas não apenas produzem mais, mas também protegem o meio ambiente e geram renda de forma sustentável, sendo ideais para agricultores familiares e comunidades tradicionais.

E no Brasil, será que essa dupla daria certo?

Embora a fruta-do-monge seja originária da Ásia, ela já está começando a aparecer no Brasil, especialmente na forma de adoçantes naturais importados. Seu uso vem crescendo entre pessoas que buscam alternativas mais saudáveis ao açúcar, o que pode abrir um mercado interessante para o cultivo local. No entanto, seu plantio ainda é raro e a poucas iniciativas experimentais.

Fruta do monge, monge, pesquisa
No Brasil, o cultivo da fruta-do-monge ainda é raro, mas seu potencial como adoçante natural desperta o interesse de agricultores e pesquisadores.

Isso significa que o Brasil tem uma grande oportunidade nas mãos. Regiões como o Norte e o Nordeste oferecem clima e solo parecidos com os da origem da planta, tornando possível adaptar seu cultivo. A figueira, por sua vez, já é amplamente conhecida e cultivada no país.

Mais do que uma curiosidade científica, essa pesquisa é um convite para repensar como produzimos nossos alimentos e medicamentos naturais. Se unirmos o conhecimento tradicional com a ciência moderna, podemos transformar o campo em um espaço de inovação ecológica e prosperidade.

Referência da notícia

Investigation of the allelopathic effect of two medicinal plant in agroforestry system. 10 de abril, 2025. Cao, C., Tian, H., Jiang, D. et al.