Pouco conhecido do grande público, o macaco-coruja (gênero Aotus) é o único primata de hábitos noturnos conhecido pela ciência. Chamado assim por sua semelhança com as corujas — especialmente os olhos grandes, adaptados para enxergar no escuro —, esse animal peculiar tem ganhado destaque tanto por suas características comportamentais quanto por sua importância científica.
Composto por 10 espécies distintas, o gênero Aotus ou por uma reclassificação taxonômica que gerou debates entre pesquisadores. Antes considerado uma única espécie com várias subespécies, agora o grupo é reconhecido como composto por espécies diferentes. Essa atualização foi promovida por estudos genéticos e observações comportamentais mais detalhadas.
Os macacos-coruja são divididos em dois grandes grupos. O primeiro, de pescoço cinza (Aotus lemurinus), habita áreas ao norte do Rio Amazonas. Já o segundo, de pescoço vermelho (Aotus azarae), vive ao sul do rio. Apesar da diferença regional, ambos compartilham hábitos noturnos e uma estrutura social bastante singular.
Um dos aspectos mais curiosos do macaco-coruja é seu comportamento monogâmico. Segundo o antropólogo biológico Eduardo Fernández-Duque, professor da Universidade de Yale (EUA), esses primatas mantêm relações duradouras e exclusivas com seus parceiros, formando pequenos grupos familiares estáveis. “Não há nenhuma evidência de infidelidade entre os pares”, afirmou em entrevista.
Além da fidelidade conjugal, destaca-se o envolvimento dos machos na criação dos filhotes. Diferente de muitas outras espécies de mamíferos, os macacos-coruja machos assumem um papel central nos cuidados com a prole. Duque os define como “os melhores pais do reino animal”.
Esse forte laço familiar contribui para a sobrevivência dos filhotes e o sucesso reprodutivo da espécie, além de tornar o macaco-coruja um excelente modelo para estudos comportamentais sobre monogamia e parentalidade entre mamíferos.
Fisicamente, os machos e fêmeas apresentam pouca diferença. A altura varia entre 34 cm e 41 cm, com peso de 450 g a 1,2 kg. São animais onívoros e se alimentam durante a noite de frutas, sementes, insetos, flores, ovos de aves e, ocasionalmente, pequenos pássaros.
O macaco-coruja também desempenha um papel importante na ciência médica. Por ser naturalmente resistente ao parasita causador da malária, ele vem sendo utilizado em pesquisas biomédicas que buscam o desenvolvimento de vacinas contra a doença. Após os estudos, os animais são normalmente devolvidos à natureza.
Apesar disso, a captura para pesquisas e o avanço do desmatamento, especialmente na Amazônia, têm colocado a espécie em risco. O impacto ambiental, somado à destruição de seus ninhos, ameaça as populações selvagens. Na natureza, esses primatas vivem cerca de 11 anos, mas em cativeiro podem atingir até 20 anos.
Conheça o macaco-coruja, a única espécie de primata noturno do mundo. 23 de março, 2024. André Luiz Dias Gonçalves.