Nova espécie de peixe é descoberta em poça isolada na Amazônia

Moema humaita, um peixe-anual da família Rivulidae, foi encontrado em uma única poça temporária perto do Rio Madeira, em uma área ameaçada por secas, pastagens e rodovia.

Um casal de Moema humaita, nova espécie de peixe-anual descoberta na Amazônia. Foto: Jan Willen Hoetmer
Um casal de Moema humaita, nova espécie de peixe-anual descoberta na Amazônia. Crédito: Jan Willen Hoetmer

Uma nova espécie de peixe foi descoberta por cientistas brasileiros em uma poça isolada no coração da Amazônia. Batizado de Moema humaita, o peixe vive em um pequeno e frágil ecossistema temporário localizado próximo ao Rio Madeira, no estado do Amazonas. A descoberta foi publicada no periódico científico Zootaxa, no início de maio.

O achado aconteceu em janeiro de 2018, quando pesquisadores encontraram a população vivendo sozinha em uma poça rasa, com apenas 20 centímetros de profundidade, sem nenhuma outra espécie de peixe presente. A área onde o peixe foi encontrado fica próxima à rodovia BR-319, em uma zona de floresta alagada. A localização é considerada crítica, por estar sujeita a impactos humanos e variações climáticas.

Dalton Nielsen, um dos autores do estudo e pesquisador do grupo Peixes da Caatinga, destaca a singularidade da descoberta. “A espécie foi encontrada em uma única localidade, em uma área alagada perto do Rio Madeira, próximo à rodovia BR-319”, afirma.

Ciclo de vida incomum e habitat extremo

O Moema humaita pertence à família Rivulidae, um grupo de peixes conhecidos como peixes-anuais, ou poeticamente, “peixes das nuvens”. Esses peixes têm um ciclo de vida singular: vivem em poças que se formam apenas durante a estação das chuvas. Durante os períodos de seca, os ovos permanecem enterrados na lama e só eclodem quando a água retorna, completando seu curto ciclo de vida antes que o ambiente seque novamente.

Esse modo de vida torna os rivulídeos extremamente especializados – e vulneráveis. Poças temporárias são habitats frágeis, muitas vezes ameaçados por atividades humanas, como o avanço da agropecuária e construções, além das mudanças climáticas, que alteram o padrão de chuvas. Estima-se que um terço de todas as espécies de peixes ameaçadas no Brasil pertença a essa família.

Embora os pesquisadores ainda não tenham informações suficientes para uma avaliação formal de conservação, os dados iniciais indicam que o Moema humaita pode ser classificado como Criticamente Em Perigo, o grau mais elevado de ameaça na escala da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Urgência por novas expedições e proteção

Além da vulnerabilidade ambiental, há também um desafio logístico na pesquisa desses peixes. Dalton Nielsen explica que estudos sobre peixes-anuais são escassos, pois os ictiólogos geralmente evitam coletas na estação chuvosa, quando os habitats temporários se formam. “Isso é muito pouco realizado, pois estes ambientes existem apenas na estação das cheias”, explica o pesquisador.

A descoberta de Moema humaita destaca a necessidade urgente de pesquisas voltadas para ecossistemas temporários da Amazônia e a criação de estratégias de conservação específicas para proteger essas espécies únicas e ameaçadas.

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(((o))) eco. Cientistas descobrem espécie de peixe que vive solitária na Amazônia. 2025