Um estudo realizado na Amazônia revelou que o aumento de 1°C na temperatura média durante a estação seca tem causado uma queda alarmante de 63% na taxa de sobrevivência de aves que habitam o sub-bosque da floresta. A pesquisa, publicada na Science Advances em janeiro de 2025, observou a redução da sobrevivência aparente em 29 espécies de aves em um trecho preservado da floresta, com base em dados coletados entre 1985 e 2012. O impacto da elevação da temperatura foi especialmente significativo em um período crucial de seca, de maio a outubro, quando a temperatura média aumentou substancialmente.
O estudo se concentrou em 4.264 aves capturadas e marcadas no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), localizado no estado do Amazonas, Brasil. A pesquisa, coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), envolveu modelagem estatística para associar a temperatura e a pluviosidade com as taxas de captura e recaptura das aves.
O aumento da temperatura teve um efeito dramático na sobrevivência das aves que vivem no sub-bosque amazônico. Com a elevação de 1°C, a taxa de sobrevivência dessas aves caiu para apenas um terço do esperado. A pesquisa observou que 24 das 29 espécies analisadas foram afetadas por esse aumento térmico. O impacto foi mais evidente em aves de longa vida, como o barranqueiro-pardo e o arapaçu-de-garganta-pintada, que mostraram ser mais vulneráveis a essas mudanças.
Além da temperatura, o estudo também avaliou a redução da precipitação, observando que a diminuição de 10 milímetros de chuva na estação seca teve um efeito muito menos severo, com uma queda de apenas 14% na sobrevivência aparente. No entanto, a variação na temperatura foi responsável por cerca de 85% da redução na taxa de sobrevivência, demonstrando o peso do aquecimento no ecossistema local.
A pesquisa também destacou a importância de preservar vastas áreas de floresta intacta para a resiliência das aves. A manutenção dessas áreas pode garantir nichos essenciais para as aves se refugiarem, especialmente em regiões mais baixas ao longo dos riachos. Segundo os cientistas, essas áreas são cruciais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e oferecer condições favoráveis para as espécies.
"Precisamos restaurar a floresta e parar o desmatamento", afirmou Mario Cohn-Haft, curador do Inpa. O estudo também levanta questões sobre a capacidade de adaptação das aves a essas novas condições e se a sobrevivência de algumas espécies mais resilientes pode ser ada para as gerações futuras.
Com base nos dados de longo prazo coletados na Amazônia, os cientistas sugerem que a pesquisa continue para entender melhor os efeitos do aquecimento global nas aves e em outros animais da região.
Em comparação com outros estudos similares realizados em áreas como o Panamá e o Equador, a pesquisa na Amazônia oferece uma visão valiosa sobre a relação entre mudanças climáticas e a biodiversidade. A continuidade dessa análise é essencial para prever e mitigar os impactos das alterações climáticas na fauna local.
Fauna News. Amazônia: estação seca mais quente reduz em 63% taxa de sobrevivência de aves. 2025