Nas últimas semanas a La Niña, fase negativa do padrão climático El Niño Oscilação Sul (ENOS), tem dado sinais de enfraquecimento no Pacífico Tropical. As águas frias em superfície que dominavam grande parte das porções central e leste do Pacífico, agora estão menos intensas e mais restritas para leste, devido às mudanças nas condições oceânicas e atmosféricas sobre os trópicos.
Desde o início do evento na primavera de 2021, o Pacífico Tropical registrou um resfriamento substancial e persistente, registrando anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) em grande parte de sua extensão, principalmente no setor central-leste. Esse resfriamento atingiu seu pico entre meados do mês de dezembro de 2021 e início de janeiro de 2022, quando todas as regiões de monitoramento do ENOS - Niño 4, Niño 3.4, Niño 3 e Niño 1+2 - registraram anomalias próximas de -1°C.
A La Niña está começando a perder força, após atingir seu pico entre dezembro e início de janeiro!
— Paola Bueno (@PaolaGBueno) February 14, 2022
Nos útimos registros de anomalia de temperatura na superfície do Pacífico, vemos que as águas frias perderam força e estão mais restritas para leste.
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A partir de então as anomalias negativas têm perdido força gradativamente na porção mais central da bacia, fazendo com que as águas mais frias ficassem mais restritas ao setor leste, próximo à costa oeste da América do Sul. A região do Niño 3.4, principal usada para monitorar o ENOS, ou de uma anomalia de -1.1°C em dezembro para -0.7°C nessa última semana. Mas quais fatores têm impulsionado essa mudança de padrão?
O primeiro deles está ocorrendo nas profundezas do Pacífico Tropical! Os últimos registros de temperaturas das águas subsuperficiais do Pacífico Tropical mostram uma ampla bolha de águas mais quentes avançando para leste. Essas águas mais quentes cessam o resfriamento em superfície e tem contribuído para um aquecimento das temperaturas.
Uma bolha de águas mais quentes que o normal na subsuperfície do Pacífico Tropical - associada a uma onda de Kelvin oceânica - é uma das responsáveis pelo enfraquecimento da La Niña e poderá impulsionar um retorno à neutralidade no Pacífico Equatorial.
— Paola Bueno (@PaolaGBueno) February 15, 2022
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Entretanto, essa bolha de águas quentes não será forte o suficiente para iniciar um evento de El Niño - fase positiva do ENOS. Ela somente irá aquecer as TSMs até atingirem temperaturas próximas a normal, ou seja, impulsionarão o retorno à neutralidade.
O segundo fator está associado ao comportamento dos ventos de leste que sopram no Pacífico Tropical, os ventos alísios. Durante a La Niña os alísios ficam mais fortes que o normal, favorecendo a ressurgência de águas mais frias no leste da bacia e transportando essas águas frias em superfície para oeste. Nas últimas semanas esses ventos começaram a perder força, iniciando uma quebra do processo de manutenção da La Niña.
Apesar de mais fraca, as condições de La Niña ainda prevalecem tanto no oceano quanto na atmosfera. O índice atmosférico SOI - Southern Oscillation Index - continua positivo, o que significa que a pressão atmosférica sobre o Taiti está maior do que sobre Darwin na Austrália. Essa alteração de pressão está associada ao fortalecimento dos ventos alísios, que apoiam a manutenção da La Niña. Portanto, ainda sentiremos os efeitos da La Niña nos próximos meses.
O último boletim dos centros internacionais indicam uma probabilidade de 77% de continuidade da La Niña durante o outono do Hemisfério Sul e uma probabilidade de 56% de retorno a neutralidade entre o final do outono e início do inverno.
— Paola Bueno (@PaolaGBueno) February 15, 2022
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De acordo com a última previsão probabilística divulgada pelo Centro de Previsão Climática (C) da NOAA, a La Niña continuará durante o outono do Hemisfério Sul com 77% de probabilidade e há 56% de chance de um retorno a fase neutra entre os meses de maio a julho. Portanto, a La Niña perderá força gradativamente até chegar ao seu fim no final no outono de 2022, aproximadamente.
Embora alguns modelos já apontem um aquecimento do Pacífico Tropical a partir do inverno, indicando anomalias positivas de TSM na região do Niño 3.4, ainda é muito cedo para inferir um possível evento de El Niño e tudo indica por ora que até o meio deste ano estaremos em uma fase neutra do ENOS.