O Brasil teve três eventos climáticos extremos sem precedentes em 2024, segundo relatório recente da OMM

O relatório denominado “O estado do clima na América Latina e Caribe 2024” destaca que o Brasil teve 10 eventos climáticos extremos, sendo 3 deles sem precedentes, que impactaram fortemente a segurança alimentar.

É consenso entre os estudiosos do clima que os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns com o aquecimento global, o que demanda ações urgentes.
É consenso entre os estudiosos do clima que os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns com o aquecimento global, o que demanda ações urgentes. Créditos: reprodução/internet.

O relatório “O estado do clima na América Latina e Caribe 2024”, publicado recentemente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), lança luz sobre a gravidade da situação na América Latina e no Caribe em 2024.

Ele destaca que o Brasil enfrentou 10 eventos climáticos extremos, sendo três deles considerados sem precedentes, ou seja, sem registro prévio na história:

  • As enchentes no Rio Grande do Sul
  • A seca na Amazônia
  • Uma onda de calor recorde na região central do país

Confira agora o que o relatório fala sobre os eventos extremos e eles estão afetando a comida que chega nas nossas mesas - ou, ainda pior, a comida que não chega.

Enchentes no Sul: prejuízo bilionário e impacto na produção

As chuvas excepcionais que atingiram o Rio Grande do Sul em Maio de 2024 resultaram em inundações que, segundo a OMM, compam o pior desastre climático já registrado no país.

Com perdas econômicas superiores a R$ 8,5 bilhões apenas no setor agrícola, o estado teve mais de 90% de seu território afetado. A soja, uma das principais culturas da região, foi severamente impactada, além de pastagens e a pecuária, que contabilizou prejuízos de R$ 1,2 bilhão.

As chuvas torrenciais de Maio de 2024 destruíram cidades inteiras, afetando infraestruturas, agricultura, pecuária, ceifando vidas humanas e de animais. Créditos: Reprodução/Silvio Avila/AFP
As chuvas torrenciais de Maio de 2024 destruíram cidades inteiras, afetando infraestruturas, agricultura, pecuária, ceifando vidas humanas e de animais. Créditos: Reprodução/Silvio Avila/AFP.

A pesca também sofreu: a Lagoa dos Patos, que responde por 30% do camarão rosa comercializado no Brasil, foi fortemente atingida, interrompendo o fornecimento do produto em diversas regiões. Mesmo com ações emergenciais, mais de 180 pessoas perderam a vida.

Seca e incêndios intensificam crise ambiental na Amazônia e no Pantanal

A seca na bacia amazônica foi uma das piores já documentadas. Com chuvas entre 30% e 40% abaixo da média, rios atingiram níveis historicamente baixos, como o rio Negro em Manaus. Até setembro, mais de 745 mil pessoas foram afetadas diretamente pela escassez hídrica, que também intensificou os focos de incêndio no estado do Amazonas.

O Rio Negro alcançou o menor nível desde o início dos registros, em 1902, com 12,66 m em Outubro de 2024. Créditos: Reprodução/Internet.
O Rio Negro alcançou o menor nível desde o início dos registros, em 1902, com 12,66 m em Outubro de 2024. Créditos: Reprodução/Internet.

No Pantanal, o cenário não foi diferente: a região enfrentou a pior seca dos últimos 70 anos. As altas temperaturas e a baixa umidade criaram condições ideais para a propagação de incêndios florestais, que exigiram reforço de brigadistas e causaram danos à biodiversidade local.

Corumbá (MS) foi a cidade mais devastada pelos incêndios em 2024, de acordo com o MapBiomas. Créditos: Reprodução/Correio do Estado.
Corumbá (MS), na foto, foi a cidade mais devastada pelos incêndios em 2024, de acordo com o MapBiomas. Créditos: Reprodução/Correio do Estado.

De Agosto a Setembro, diversas áreas do Centro-Oeste brasileiro registraram temperaturas até 7 °C acima da média histórica

Calor extremo quebra recordes e agrava vulnerabilidades

A onda de calor que atingiu o Brasil em Agosto de 2024 foi classificada pela OMM como sem precedentes. Temperaturas superiores a 41 °C foram registradas em várias cidades, com destaque para Cuiabá (MT), que marcou 42,2 °C — um novo recorde histórico, na época. Esse calor fora do comum afetou a saúde pública, provocou aumento no consumo de energia e elevou os riscos de incêndios urbanos e rurais.

Termômetro de rua em Cuiabá (MT) registrou 45°C. Embora estes registros não representem a temperatura do ar, a cidade registrou oficialmente mais de 40°C por 6 dias seguidos. Créditos: Reprodução/Internet.
Termômetro de rua em Cuiabá (MT) registrou 45°C. Embora estes registros não representem a temperatura do ar, a cidade registrou oficialmente mais de 40°C por 6 dias seguidos. Créditos: Reprodução/Internet.


Esses eventos reforçam o alerta dos cientistas sobre os efeitos das mudanças climáticas, exigindo ações mais urgentes de mitigação e adaptação. O relatório também apontou que o Brasil, assim como seus vizinhos latino-americanos, está entre os mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global.

O clima extremo está afetando o que chega ao seu prato: segurança alimentar em risco

O relatório da OMM também destaca um cenário alarmante: a intensificação de eventos extremos como secas, enchentes e ondas de calor tem afetado profundamente a segurança alimentar na América Latina e no Caribe.

A combinação de perdas agrícolas, interrupções nas cadeias de abastecimento e impactos diretos sobre a pecuária e pesca comprometeu a disponibilidade de alimentos, especialmente em regiões mais vulneráveis.

Lavoura de milho destruída pelas enchentes de Maio de 2024, em Estrela (RS). Créditos: Reprodução/Folha.
Lavoura de milho destruída pelas enchentes de Maio de 2024, em Estrela (RS). Créditos: Reprodução/Folha.

No Brasil, os prejuízos no setor agropecuário com as enchentes no Sul e a seca na Amazônia e no Pantanal resultaram na perda de colheitas inteiras e na morte de animais, gerando aumento nos preços dos alimentos e dificultando o o da população a itens básicos. Esse quadro se agravou em um contexto já marcado por alta nos preços, desigualdade de renda e pobreza crescente, segundo o relatório.

A agricultura regenerativa é um modelo de produção onde a plantação convive em equilíbrio com o ambiente, promovendo a recuperação do solo, da biodiversidade e dos ciclos naturais. Créditos: Reprodução/HFUU.
A agricultura regenerativa é um modelo de produção onde a plantação convive em equilíbrio com o ambiente, promovendo a recuperação do solo, da biodiversidade e dos ciclos naturais. Créditos: Reprodução/HFUU.

A OMM alerta que a frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos tendem a aumentar, pressionando ainda mais os sistemas alimentares. Para enfrentar esse desafio, o documento reforça a necessidade urgente de fortalecer a resiliência agrícola, investir em sistemas alimentares sustentáveis e implementar ações antecipadas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Referência da notícia

State of the Climate in Latin America and the Caribbean 2024, publicado em 28 de Março de 2025 pela OMM.