O relatório “O estado do clima na América Latina e Caribe 2024”, publicado recentemente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), lança luz sobre a gravidade da situação na América Latina e no Caribe em 2024.
Ele destaca que o Brasil enfrentou 10 eventos climáticos extremos, sendo três deles considerados sem precedentes, ou seja, sem registro prévio na história:
Confira agora o que o relatório fala sobre os eventos extremos e eles estão afetando a comida que chega nas nossas mesas - ou, ainda pior, a comida que não chega.
As chuvas excepcionais que atingiram o Rio Grande do Sul em Maio de 2024 resultaram em inundações que, segundo a OMM, compam o pior desastre climático já registrado no país.
Com perdas econômicas superiores a R$ 8,5 bilhões apenas no setor agrícola, o estado teve mais de 90% de seu território afetado. A soja, uma das principais culturas da região, foi severamente impactada, além de pastagens e a pecuária, que contabilizou prejuízos de R$ 1,2 bilhão.
A pesca também sofreu: a Lagoa dos Patos, que responde por 30% do camarão rosa comercializado no Brasil, foi fortemente atingida, interrompendo o fornecimento do produto em diversas regiões. Mesmo com ações emergenciais, mais de 180 pessoas perderam a vida.
A seca na bacia amazônica foi uma das piores já documentadas. Com chuvas entre 30% e 40% abaixo da média, rios atingiram níveis historicamente baixos, como o rio Negro em Manaus. Até setembro, mais de 745 mil pessoas foram afetadas diretamente pela escassez hídrica, que também intensificou os focos de incêndio no estado do Amazonas.
No Pantanal, o cenário não foi diferente: a região enfrentou a pior seca dos últimos 70 anos. As altas temperaturas e a baixa umidade criaram condições ideais para a propagação de incêndios florestais, que exigiram reforço de brigadistas e causaram danos à biodiversidade local.
De Agosto a Setembro, diversas áreas do Centro-Oeste brasileiro registraram temperaturas até 7 °C acima da média histórica
A onda de calor que atingiu o Brasil em Agosto de 2024 foi classificada pela OMM como sem precedentes. Temperaturas superiores a 41 °C foram registradas em várias cidades, com destaque para Cuiabá (MT), que marcou 42,2 °C — um novo recorde histórico, na época. Esse calor fora do comum afetou a saúde pública, provocou aumento no consumo de energia e elevou os riscos de incêndios urbanos e rurais.
Esses eventos reforçam o alerta dos cientistas sobre os efeitos das mudanças climáticas, exigindo ações mais urgentes de mitigação e adaptação. O relatório também apontou que o Brasil, assim como seus vizinhos latino-americanos, está entre os mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global.
O relatório da OMM também destaca um cenário alarmante: a intensificação de eventos extremos como secas, enchentes e ondas de calor tem afetado profundamente a segurança alimentar na América Latina e no Caribe.
A combinação de perdas agrícolas, interrupções nas cadeias de abastecimento e impactos diretos sobre a pecuária e pesca comprometeu a disponibilidade de alimentos, especialmente em regiões mais vulneráveis.
No Brasil, os prejuízos no setor agropecuário com as enchentes no Sul e a seca na Amazônia e no Pantanal resultaram na perda de colheitas inteiras e na morte de animais, gerando aumento nos preços dos alimentos e dificultando o o da população a itens básicos. Esse quadro se agravou em um contexto já marcado por alta nos preços, desigualdade de renda e pobreza crescente, segundo o relatório.
A OMM alerta que a frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos tendem a aumentar, pressionando ainda mais os sistemas alimentares. Para enfrentar esse desafio, o documento reforça a necessidade urgente de fortalecer a resiliência agrícola, investir em sistemas alimentares sustentáveis e implementar ações antecipadas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
State of the Climate in Latin America and the Caribbean 2024, publicado em 28 de Março de 2025 pela OMM.