Confirmado: estudo revela que La Niña é o pesadelo das previsões

Prever El Niño e La Niña é um desafio, mas um estudo publicado na Nature analisou 20 anos de previsões e mostrou que modelos dinâmicos superam os estatísticos - especialmente para El Niño. Já La Niña? Essa ainda dá dor de cabeça.

modelo-conceitual
Modelo conceitual de El Niño e La Niña: laranja representa aquecimento do oceano Pacífico e azul o resfriamento. As nuvens indicam onde a chuva é favorecida e as setas indicam onde a chuva é desfavorecida. Fonte: NOAA Climate.gov

Prever El Niño e La Niña sempre foi um grande desafio para meteorologistas e cientistas do clima. Mas um estudo publicado na Nature em dezembro de 2024, que analisou mais de 20 anos de previsões, trouxe insights valiosos: os modelos dinâmicos superam os estatísticos, especialmente para El Niño.

Já a previsão do início de La Niña continua sendo um problema complicado - como ficou muito claro ao longo do último ano. Vamos entender melhor essas descobertas!

Modelos dinâmicos vs. estatísticos: quem leva a melhor?

As previsões de El Niño e La Niña podem ser feitas por dois tipos principais de modelos:

  • Modelos dinâmicos: utilizam equações baseadas nas leis da física para simular o comportamento do oceano e da atmosfera.
  • Modelos estatísticos: analisam padrões históricos e fazem previsões com base em correlações adas.

A pesquisa revelou que os modelos dinâmicos são mais precisos, especialmente quando se trata de prever El Niño. Eles conseguem capturar melhor as interações entre o oceano e a atmosfera, proporcionando resultados mais confiáveis.

bias
Modelos climáticos apresentam menos viés ao prever El Niño do que La Niña, com modelos dinâmicos mostrando menor viés em geral em comparação com modelos estatísticos. Fonte: NOAA Climate.gov

Já os modelos estatísticos, apesar de sua simplicidade e baixo custo computacional, apresentam maior margem de erro, principalmente quando usados para prever eventos climáticos muito à frente no tempo.

El Niño: o desafio da previsão do início

Embora prever o pico de El Niño seja um desafio, é no momento em que o evento realmente começa que os cientistas enfrentam suas maiores dificuldades. Determinar com precisão quando o fenômeno se inicia é uma tarefa complexa, principalmente devido à natureza variável e dinâmica das interações oceano-atmosfera.

A previsão do início de El Niño tem uma taxa de sucesso relativamente alta, com modelos dinâmicos acertando o momento de início do evento em até três meses antes, com mais de 60% de precisão.

precisao
Acurácia da previsão de El Niño de acordo com modelos dinâmicos e estatísticos. Fonte: NOAA Climate.gov

Esse avanço é significativo, pois permite uma antecipação que é fundamental para a preparação e mitigação dos impactos. No entanto, as previsões não são perfeitas e os modelos, embora eficazes, ainda estão longe de fornecer uma previsão 100% confiável. Em contraste, prever o início de La Niña é um desafio ainda maior.

La Niña: o pesadelo das previsões

Se prever El Niño já não é fácil, antecipar o início de La Niña é ainda mais difícil. O estudo mostrou que, enquanto os modelos dinâmicos conseguem prever El Niño com uma taxa de acerto razoável até três meses antes do evento, as previsões para La Niña são bem menos confiáveis.

lanina
A precisão das previsões do início de La Niña diminui drasticamente após três estações, com modelos dinâmicos abaixo de 20% e modelos estatísticos com precisão zero na maioria dos prazos, exceto em alguns específicos. Fonte: NOAA Climate.gov

Quando a previsão é feita com cinco ou mais meses de antecedência, os acertos caem drasticamente. Os modelos estatísticos praticamente falham, e os dinâmicos não apresentam grande vantagem. Em alguns casos, a precisão é tão baixa que os acertos podem ocorrer mais por sorte do que por habilidade do modelo.

Desafios futuros

O estudo sugere que, para entender as dificuldades em prever La Niña, são necessários estudos aprofundados que se concentrem exclusivamente nesse fenômeno:

Os resultados desta análise são fascinantes, e aprofundar-se nas razões subjacentes e nas causas desses erros significativos exigiria um estudo separado que empregue uma análise mais abrangente e considere variáveis adicionais.

Apesar desses desafios, a previsão do ENSO (El Niño, La Niña e fase neutra) continua sendo uma das mais confiáveis dentro da meteorologia sazonal. Novas abordagens, como a inteligência artificial e o aprendizado de máquina, têm o potencial de aprimorar as previsões, especialmente no caso de La Niña.

Enquanto isso, cientistas seguem refinando os modelos e adquirindo um conhecimento mais aprofundado sobre os padrões climáticos que governam esses fenômenos, particularmente no contexto do aquecimento global e das mudanças climáticas. Compreender e prever El Niño e La Niña é crucial, pois esses fenômenos têm impactos globais que afetam não apenas o clima, mas também as atividades econômicas e sociais.

Referência da notícia

How good have models been at predicting ENSO in the 21st century?, publicado por NOAA Climate.gov, em 27 de fevereiro de 2025

Real-time ENSO forecast skill evaluated over the last two decades, with focus on the onset of ENSO events, publicado na revista Nature em dezembro de 2024.