É cada vez mais comum encontrar artigos de pesquisa científica sobre culturas de consumo máximo, que serão afetadas (ou diretamente perdidas) pelos efeitos crescentes das mudanças climáticas. Já sabemos que o cacau, a cevada, a videira, o café e várias outras plantas são muito sensíveis à crise climática.
Neste artigo, vamos lhe contar tudo sobre uma planta nobre, que não apenas tem vários benefícios medicinais, mas também é tão poderosa que se adapta às condições de estresse hídrico e temperaturas extremas do mundo atual, e até mesmo aos futuros cenários desanimadores. Trata-se da Aloe vera.
A condição ideal para o desenvolvimento do cultivo do Aloe vera requer poucos recursos hídricos, ocorre em ambientes secos com amplitude térmica moderada e muitas horas de luz solar direta por ano. O atendimento desses três requisitos básicos simultaneamente não ocorre em todos os países do mundo, claro que, como você pode imaginar, o excesso de umidade e as geadas são hostis à planta.
No entanto, como mostram vários estudos, o mundo ficará cada vez mais seco. Por exemplo, um 1/4 do planeta Terra poderá se tornar significativamente mais seco se o aquecimento global atingir o limite de 2°C.
A aridificação aumentaria de 20% a 30% na superfície terrestre global quando a mudança da temperatura média global atingir 2°C, afirma o Dr. Manoj Joshi, da Escola de Ciências Ambientais da UEA.
Em muitas áreas semiáridas da América, a desertificação vem ganhando espaço há muito tempo. Durante o século 20, a seca tem aumentado especialmente na costa leste da Austrália, no Mediterrâneo e na África Austral.
Com este panorama hostil, é uma boa notícia saber que a planta Aloe vera é tão nobre que poderia ser quase a nossa única aliada, nos proporcionando as suas propriedades magistrais e benéficas, apesar de sermos os responsáveis pela crise ambiental.
Um estudo mostra como, ao submeter as plantas de Aloe vera sem água durante sete meses, elas ainda permaneceram vivas e metabolicamente ativas. O Aloe vera possui folhas suculentas, é um tecido especialmente adaptado para armazenar água. Portanto, a suculência mais a fotossíntese do tipo CAM (Crassulacean Acid Metabolism, nome genérico para um grupo de plantas que apresentam variação no seu metabolismo fotossintético), é uma combinação extremamente eficiente para lidar com longos períodos de escassez de água.
O Aloe vera é uma planta que acumula dióxido de carbono (CO2) durante a noite na forma de ácidos orgânicos, e durante o dia os ácidos orgânicos são descarboxilados, liberando o CO2, que é então utilizado para produzir açúcares através do processo fotossintético.
A fotossíntese tem como objetivo produzir açúcares que podem ser utilizados para diversos fins, sendo um deles auxiliar a planta a adquirir água do seu ambiente, por meio de ajustes osmóticos. Além disso, ajuda a manter outro processo vital, que é a respiração celular. Embora as plantas possam sobreviver sem fotossíntese por alguns dias, se a respiração parar, a planta morre.
O Aloe é uma suculenta da família Asphodelaceae, que possui 500 espécies distribuídas em diferentes regiões do mundo. Sua origem é disputada entre a África do Sul e a Península Arábica, mas cresce selvagem em quase todo o mundo: em climas tropicais, semitropicais e áridos.
A planta de Aloe vera possui folhas carnudas triangulares com bordas serrilhadas, cada uma composta por três camadas.
Uma espessa camada externa chamada córtex que tem função protetora e sintetiza carboidratos e proteínas. Dentro do córtex existem feixes vasculares responsáveis pelo transporte de substâncias como água e amido.
Uma segunda camada é composta por um gel interno transparente que contém 99% de água e o restante é composto por glucomanano, aminoácidos, lipídios, esteróis e vitaminas. O gel de Aloe vera é normalmente usado para fazer medicamentos tópicos para doenças da pele, como: queimaduras, feridas, erupções cutâneas, psoríase, herpes labial ou pele seca, infecções bacterianas e fúngicas da pele, feridas crônicas nas pernas, lesões cutâneas diabéticas, infecções parasitárias, sistêmicas lúpus eritematoso, artrite, etc.
Entre as duas camadas existe uma camada intermediária de látex que é a seiva amarela amarga e contém antraquinonas e glicosídeos. O látex de Aloe é usado individualmente ou feito como um produto com outros ingredientes que são ingeridos para aliviar a constipação.
Atualmente, o principal produtor mundial, tanto de matérias-primas quanto de produtos processados de Aloe vera, são os Estados Unidos. A China também se destaca pela tradição e pela área de 6.500 hectares cultivada com esta planta.
Em particular, a maravilhosa planta de Aloe vera foi introduzida na ilha de Aruba em 1840, e pouco depois de 2/3 da sua superfície estar coberta com essa planta, foi assim que a ilha se tornou o maior exportador do mundo.
Em Aruba, as primeiras plantas de Aloe vera foram plantadas em 60 hectares, na plantação de Hato, que ainda hoje é usada para cultivá-la para a finalidade de gerar todos os produtos derivados. Você pode visitar a plantação de Aloe vera, bem como o museu e a fábrica, durante visitas guiadas diárias.
Na visita, você tem a oportunidade de conhecer a história de 160 anos da babosa no museu, que é um repositório nacional de ferramentas e equipamentos antigos, com uma biblioteca completa sobre a história, fabricação e qualidades da planta.
Nos últimos anos, a Argentina registrou um aumento no consumo de gel de Aloe vera, que é majoritariamente importado, uma vez que a produção local é escassa. Em São Francisco, província de Córdoba, e em Pergamino, província de Buenos Aires, os empresários desenvolvem a cultura com uma superfície média por produtor entre 1/2 e 1 hectare.
Referências da notícia:
Park, C-E. et al. Keeping global warming within 1.5 °C constrains emergence of aridification. Nature Climate Change, v. 8, 2018.
Delatorre-Castillo, J. P. et al. Preconditioning to Water Deficit Helps Aloe vera to Overcome Long-Term Drought during the Driest Season of Atacama Desert. Plants, v. 11, n. 11, 2022.
Aruba. "Aruba Aloe Museum and Factory". 2024.