Surpreendente! Supernova pode ter afetado evolução de vírus há 2.5 milhões de anos

Em novo estudo, astrônomos relacionam uma supernova com a evolução de vírus em um lago no Leste Africano há milhões de anos

O lago Tanganyika pode ter tido influência de raios cósmicos originados por supernova há 2.5 milhões de anos que também influenciou na evolução de vírus. Crédito: NASA
O lago Tanganyika pode ter tido influência de raios cósmicos originados por supernova há 2.5 milhões de anos que influenciou na evolução de vírus. Crédito: NASA

A questão de como a vida surgiu na Terra geralmente leva em conta fatores internos como atmosfera e temperatura. Porém, a vida na Terra não fica isolada do Universo, ela é constantemente sujeita a influências externas vindas do espaço. Fenômenos como explosões de supernovas, impactos de asteroides e variações na atividade solar podem afetar o ambiente terrestre e na evolução da vida.

Um dos principais fatores externos que impactam a vida na Terra é a radiação. A radiação tem um papel importante porque ela pode ter energia suficiente para modificar o DNA. Outro ponto importante s��o os raios cósmicos que possuem altas energias e também podem afetar o DNA. Esses raios cósmicos são partículas em velocidades extremas que são provenientes de eventos como supernovas.

Um artigo publicado recentemente faz uma correlação entre uma supernovas que ocorreu há 2.5 milhões de anos e a evolução de vírus em um lago no Leste Africano. Segundo os pesquisadores, as partículas energéticas que foram ejetadas em direção à Terra nessa explosão alteraram a taxa de mutação dos vírus na região. Essa descoberta mostra como o Universo pode afetar traços evolutivos aqui na Terra.

Supernovas

Supernovas do tipo II são explosões estelares que acontecem quando uma estrela muito massiva chega ao final de sua vida. Geralmente, essas estrelas tem cerca de 8 vezes a massa do Sol e são estrelas que não vivem muito. Essa supernova ocorre quando o núcleo da estrela entra em colapso sob sua própria gravidade e o material mais externo é expelido após uma liberação de energia.

Apesar de não ter um brilho tão característico como as supernovas do tipo Ia, as supernovas do tipo II são também muito brilhantes e podem brilhar mais que a galáxia por alguns dias.

Quando uma estrela entra em supernova, o resultado final geralmente é uma estrela de nêutrons ou um buraco negro estelar. O remanescente depende da massa que a estrela tinha quando chegou ao final da vida. Esses fenômenos possuem curvas de luz com um pico inicial seguido por um declínio gradual. Como são comuns para estrelas massivas e azuis, elas são encontradas em regiões de formação estelar.

Raios cósmicos

Um fluxo de partículas carregadas, como prótons, que estão próximos a velocidade da luz é chamado de raios cósmicos. Eles são divididos em raios cósmicos de baixa energia e de alta energia. Raios cósmicos de alta energia são criados em eventos astronômicos bastante energéticos como as próprias supernovas. Enquanto os de baixa energia podem vir até mesmo do Sol.

A Terra é constantemente atingida por raios cósmicos tanto da vizinhança, como o Sol, quanto de eventos distantes como supernovas ou buracos negros supermassivos. Quando alguns raios interagem com a atmosfera, as interações com outras partículas criam partículas secundárias que são detectadas. Já outros raios podem atingir a superfície do planeta atingindo organismos ou até dispositivos eletrônicos.

Lago Tanganyika

Curiosamente, algo assim aconteceu no lago Tanganyika que está situado no Vale do Rift da África Oriental. O lago Tanganyika é isolado por montanhas ao redor e é um dos maiores lagos do mundo assim como um dos mais profundos. Ele tem mais de 640 km de extensão e fica entre a Tanzânia, República Democrática do Congo, Burundi e Zâmbia.

Uma parte do lago está localizado na Tanzânia e é dividido em 4 países sendo um dos maiores lagos do mundo.
Uma parte do lago está localizado na Tanzânia e é dividido em 4 países sendo um dos maiores lagos do mundo. Crédito: Halidtz

O lago contém uma parcela de cerca de 16% da água doce do mundo e é importante para o comércio de peixes local. O lago possui uma variedade de espécies de peixe com cerca de 250 espécies endêmicas. É estimado que entre 2 a 3 milhões de anos atrás, o número de espécies de vírus infectando peixes no lago aumentou consideravelmente. Um grupo de pesquisadores propõe que tenha relação com fatores astronômicos.

Isótopo de ferro

Quando amostras do fundo do lago foram analisadas, pesquisadores encontraram uma forma radioativa do ferro chamada de ferro-60. Geralmente, o ferro-60 é formado em explosões de supernovas. Ao analisar a idade do elemento, eles encontraram que alguns eram datados a 2.5 milhões de anos atrás enquanto outra parte era datado de 6.5 milhões de anos atrás.

Há cerca de 6,5 milhões de anos, a Terra havia entrado em uma bolha de poeira estelar o que levou ao aumento da quantidade de ferro-60. Só que há 2.5 milhões de anos, a Terra já não estava nessa bolha e algum outro fenômeno poderia explicar esse isótopo mais recente. Eles conectaram com uma supernova que causou um aumento de radiação atingindo a Terra na mesma época.

Vírus foram afetados?

Os raios cósmicos que vieram dessa supernova eram energéticos o suficiente para afetar o DNA de organismos e levar esses vírus no Lago Tanganyika a sofrer mutações. Segundo os autores do artigo, essa supernova bombardeou a Terra com raios cósmicos por 100.000 anos após a explosão. Isso ocasionou um pico de radiação que impactou a vida na Terra durante aquela época.

Tanto a supernova quando o pico de vírus no lago são do mesmo período. Ainda é cedo para dizer que a supernova é o motivo que levou ao aumento de vírus mas as simulações mostram que o tempo é semelhante. A ideia agora é aprofundar ainda mais no estudo da composição do lago e o estudo de supernovas.

Referência da notícia

Nojiri et al 2025 Life in the Bubble: How a Nearby Supernova Left Ephemeral Footprints on the Cosmic-Ray Spectrum and Indelible Imprints on Life The Astrophysical Journal Letters