Desde o começo do ano até agora, o Brasil registrou um número total de 51.609 focos de incêndios registrados em todo o território nacional. Segundo dados do INPE, o aumento é de 54% comparado ao mesmo período do ano ado.
O clima extremamente seco e quente dos últimos meses com certeza exerceu influência sobre esse aumento. Com a atuação do fenômeno El Niño que acarretou chuvas irregulares e diversas ondas de calor sobre o Brasil Central, o número de incêndios aumentou muito principalmente sobre o Sudeste.
Em São Paulo, o número de focos de queimadas chegou a 1.649 nessa última quinta-feira (25), e dentro deste período, é o maior número já registrado desde 2010, ou seja, demorou 14 anos para que São Paulo atingisse um número tão impactante assim de queimadas.
Como mencionado acima, já se aram 14 anos desde que São Paulo registrou o maior número de queimadas entre 1 de janeiro e 25 de julho. Segundo o acompanhamento do INPE, o estado vinha inclusive registrando queda nos últimos 3 anos, mas com a influência do El Niño, a chuva se tornou escassa e o calor aumentou.
O gráfico acima mostra o número total de queimadas registrados no estado paulista, o recorde anterior registrado em 2010 era de 2.188 focos registrados. Em 2018, o pico chegou a 1.645, mas ainda assim, foi batido pela quantidade de incêndios registrados este ano.
O INPE faz o acompanhamento dos focos registrados diariamente, o que possibilita enxergarmos o real cenário com relação às secas, pois quanto menor a umidade disponível no solo, quanto mais seca a vegetação, e quanto mais calor, maiores são as chances de começar um incêndio, ainda que de maneira natural.
A preocupação se estende por diversos estados que foram impactos pela estiagem prolongada. Aliás, no ranking nacional, o estado de Minas Gerais vem a frente de São Paulo no número de registros deste período com um total de 2.486 focos, um aumento de 49% comparado a 2023. Um recorde desde 2007.
As últimas simulações do modelo climático europeu ECMWF estavam bastante animadoras quanto a uma mudança expressiva de padrão com a virada do mês de julho para agosto, tudo embasado na mudança de fase de positiva para negativa da AAO como já mencionado em outros artigos da Meteored BR.
Porém, a última rodada mudou um pouco as expectativas sobre as chuvas abrangentes e um período úmido significativo sobre o Sudeste neste mês de agosto.
Com um possível rompimento do bloqueio atmosférico, um ciclone pode se formar e uma frente fria pode avançar nos próximos dias que marcarão a virada do mês. Apesar disso, como o mapa abaixo mostra, as pancadas ainda serão pontuais no Sudeste com o sistema ando de forma costeira.
As pancadas podem se espalhar pela faixa leste de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e leste de Minas Gerais até a terça-feira (31), mas de modo geral, espera-se uma chuva irregular e mal distribuída com maiores acumulados somente nas áreas em rosa do mapa. O volume pode chegar aos 50 milímetros em áreas mais próximas ao litoral principalmente em São Paulo.
Apesar dessa chuva que volta a atingir áreas do Sudeste, o clima seco e quente ainda não dará trégua sobre a maior parte da região, principalmente sobre o centro e oeste paulista, triângulo mineiro e noroeste de Minas.
Nesse período entre 29 de julho e 5 de agosto, o ECMWF projeta chuvas somente nas áreas costeiras do Sudeste, ou seja, boa parte da região continuará com anomalia negativa de precipitação (áreas em laranja do mapa).
A boa notícia é que para o próximo período entre 5 e 12 de agosto, o modelo ainda mantém a tendência de umidade sobre boa parte do centro-sul do Brasil, mas diferente das últimas simulações que eram mais animadoras, a última rodada projetou a chuva um pouco mais para baixo, ou seja, a umidade não deve alcançar nem todo o estado de São Paulo, imagina Minas Gerais.
Apesar do ‘balde de água fria’ que esse artigo trás de certa forma, é válido ressaltar que é uma tendência climática e que pode mudar novamente, e além disso, comparado aos últimos meses, agosto chegará bem melhor no que se diz respeito a clima muito seco, isso pode aliviar a questão do aumento das queimadas, mas com certeza, ainda não será o suficiente para impedir que novos focos sejam registrados.