Onda de calor: Explode o número de denúncias de trabalho devido ao calor extremo no Brasil

As denúncias sobre calor extremo no trabalho no Brasil cresceram quase cinco vezes entre 2022 e 2024. Setores como construção civil, agricultura e indústrias são os mais afetados, com trabalhadores enfrentando exaustão, desmaios e até morte.

Trabalhadora exausta devido ao calor.
Denúncias sobre calor extremo no trabalho cresceram quase cinco vezes entre 2022 e 2024, com trabalhadores enfrentando exaustão, desmaios e até morte.

As denúncias relacionadas ao calor extremo no trabalho no Brasil estão disparando como nunca. Entre 2022 e 2024, as queixas ao Ministério Público do Trabalho (MPT) com o termo "calor" quase quintuplicaram, ando de 154 para 741. Apenas em 2025, até 18 de fevereiro, já foram 194 denúncias.

Trabalhos a céu aberto, como agricultura, construção civil, correios, telecomunicações e vigilância são alguns dos mais afetados, mas outros setores como telemarketing, supermercados, panificadoras, indústrias e até hospitais também estão sendo denunciados.

Quando está 34°C, 38°C fora da empresa, dentro da empresa está marcando 43°C. Imagina como ficam os trabalhadores soldando tanques. (...) temos relatos de empresas em que as pessoas estavam desmaiando, saindo de ambulância. Isso não pode acontecer - Paulo Andrade, Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul

O Rio Grande do Sul, onde temperaturas atingiram 43°C recentemente, lidera as denúncias do MPT com 21% do total. Em seguida vem São Paulo (18,1%) e Santa Catarina (12,4%). O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, por exemplo, registrou quase 20 denúncias sobre calor excessivo em fábricas da Serra Gaúcha nas últimas semanas. Trata-se de um número alto em relação ao histórico.

Trabalhador em local extremamente quente.
Diversos setores estão sendo denunciados, como indústrias, mercados, hospitais, construção civil, correios e agricultura. Há denúncias de trabalhadores ando mal devido ao calor.

Entre as principais queixas dos trabalhadores estão a falta de ventilação adequada e ausência de água fresca, o que já levou à negociação de questões como pausas extras sob condições de calor excessivo e instalação de bebedouros industriais em algumas empresas.

Riscos para a saúde também prejudicam a economia

Estudos mostram que trabalhadores expostos ao calor extremo estão sujeitos a problemas que vão desde os mais leves, como exaustão, tontura, perda de concentração e desmaios, até mais sérios, como ataque cardíaco, transtornos renais e problemas cardiovasculares e respiratórios.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), todo ano ocorrem cerca de 23 milhões de lesões e quase 19 mil mortes devido à condições de calor extremo.

Além disso, o calor também reduz a produtividade. Em setores como a construção civil, trabalhadores enfrentam dificuldades para manter o ritmo de trabalho sob altas temperaturas. Estudos recentes estão apontando que diversas áreas têm sua produtividade reduzida em casos de calor severo.

Trabalhador ando mal devido ao calor excessivo.
Cerca de 23 milhões de lesões e quase 19 mil mortes são registradas todo ano devido ao calor.

Apesar disso, a adaptação das condições de trabalho ainda é basicamente inexistente, ou ocorre de forma muito lenta.

Medidas para Enfrentar o Problema

Para lidar com essa questão, o MPT criou no ano ado um grupo específico para lidar com as questões das mudanças climáticas, lançando diretrizes de trabalho como:

  • Ajustar os horários de trabalho para evitar o sol intenso;
  • Promover pausas regulares em locais com conforto térmico;
  • Instalar ventilação e climatização adequadas;
  • Disponibilizar água fresca potável;
  • Disponibilizar vestimenta apropriada à atividade e ao ambiente;
  • Suspensão temporária das atividades em condições que representem riscos à saúde ou à vida;
  • Viabilização de trabalho remoto especialmente para pessoas com comorbidades, gestantes e idosos;
  • Orientar os trabalhadores a respeito de sintomas de saúde que devem ser reportados e tratados.

O setor público também pode contribuir, especialmente no caso de trabalhadores informais e autônomos. O Rio de Janeiro, por exemplo, implementou um protocolo de calor com pontos de hidratação e ajustes em eventos ao ar livre. No entanto, especialistas alertam que o Brasil precisará urgentemente de diretrizes mais centralizadas para enfrentar os desafios climáticos.