As denúncias relacionadas ao calor extremo no trabalho no Brasil estão disparando como nunca. Entre 2022 e 2024, as queixas ao Ministério Público do Trabalho (MPT) com o termo "calor" quase quintuplicaram, ando de 154 para 741. Apenas em 2025, até 18 de fevereiro, já foram 194 denúncias.
Trabalhos a céu aberto, como agricultura, construção civil, correios, telecomunicações e vigilância são alguns dos mais afetados, mas outros setores como telemarketing, supermercados, panificadoras, indústrias e até hospitais também estão sendo denunciados.
O Rio Grande do Sul, onde temperaturas atingiram 43°C recentemente, lidera as denúncias do MPT com 21% do total. Em seguida vem São Paulo (18,1%) e Santa Catarina (12,4%). O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, por exemplo, registrou quase 20 denúncias sobre calor excessivo em fábricas da Serra Gaúcha nas últimas semanas. Trata-se de um número alto em relação ao histórico.
Entre as principais queixas dos trabalhadores estão a falta de ventilação adequada e ausência de água fresca, o que já levou à negociação de questões como pausas extras sob condições de calor excessivo e instalação de bebedouros industriais em algumas empresas.
Estudos mostram que trabalhadores expostos ao calor extremo estão sujeitos a problemas que vão desde os mais leves, como exaustão, tontura, perda de concentração e desmaios, até mais sérios, como ataque cardíaco, transtornos renais e problemas cardiovasculares e respiratórios.
Além disso, o calor também reduz a produtividade. Em setores como a construção civil, trabalhadores enfrentam dificuldades para manter o ritmo de trabalho sob altas temperaturas. Estudos recentes estão apontando que diversas áreas têm sua produtividade reduzida em casos de calor severo.
Apesar disso, a adaptação das condições de trabalho ainda é basicamente inexistente, ou ocorre de forma muito lenta.
Para lidar com essa questão, o MPT criou no ano ado um grupo específico para lidar com as questões das mudanças climáticas, lançando diretrizes de trabalho como:
O setor público também pode contribuir, especialmente no caso de trabalhadores informais e autônomos. O Rio de Janeiro, por exemplo, implementou um protocolo de calor com pontos de hidratação e ajustes em eventos ao ar livre. No entanto, especialistas alertam que o Brasil precisará urgentemente de diretrizes mais centralizadas para enfrentar os desafios climáticos.