O astrônomo Carl Sagan uma vez disse que “"se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço". Foi um dos principais a popularizar a ideia de que a vida poderia existir fora do planeta Terra devido ao tamanho do Universo. Nas últimas décadas, muitos astrônomos focaram seus estudos em buscar evidência de vida primitiva ou inteligente fora da Terra.
Diversos modelos surgiram para explicar a existência de vida na Terra e a probabilidade de existência dela no cosmos. Um dos modelos é chamado de “hard steps” onde diz que a vida foi resultado de uma série de eventos improváveis e dependeu da sorte. Segundo esse modelo, a combinação de fatores e condições improváveis foi rara e dificilmente poderia acontecer em outros lugares do Universo. Nesse caso, a vida seria uma exceção no Universo.
Um novo estudo da Universidade Penn State revisou o modelo de hard steps e trouxe argumentos contra o modelo proposto. Os pesquisadores argumentam que as condições para o surgimento da vida podem não ser tão raras e que processos biológicos podem fazer parte da evolução planetária. Ou seja, a vida seria parte da evolução de um planeta sob algumas condições não tão raras assim.
Em 1961, o astrônomo Frank Drake propôs a Equação de Drake onde considera diferentes fatores para estimar o número de civilizações extraterrestres inteligentes na Via Láctea. Alguns desses fatores são taxa de formação estelar, taxa de planetas em zona habitáveis e taxa de estrelas com planetas. A equação não tem um valor exato e o resultado depende dos números obtidos que muitas vezes tem erros associados.
A equação retorna uma estimativa do número de civilizações que é usado como uma ajuda para diferentes modelos. Se o valor for alto, isso indica a existência de várias civilizações. Já um número baixo significa que a vida inteligente é rara. Algumas missões como as dos telescópios Kepler e James Webb ajudam a refinar alguns dos valores e diminuir os erros associados.
O modelo "hard-steps" propõe que a origem e evolução da vida na Terra aconteceu através de uma série de eventos raros. Alguns desses eventos seriam surgimento das primeiras moléculas autorreplicantes, o surgimento de células eucarióticas e o desenvolvimento de organismos multicelulares. Cada uma dessas transições representaria um o extremamente difícil, daí o nome “hard steps”, que tornaria a vida avançada algo improvável.
Recentemente, um artigo revisou o modelo hard steps e encontrou argumentos que indicam que a vida pode ser mais comum do que se pensava. A descoberta de ingredientes essenciais para a vida em asteroides, luas geladas e exoplanetas reforça a ideia de que a vida pode surgir com mais frequência. Além disso, algumas dessas transições podem não ser tão improváveis.
O artigo publicado recentemente argumenta que evolução da vida, principalmente vida complexa, pode depende mais da interação entre os organismos e seu ambiente do que da sorte. Um dos argumentos é que a Terra primitiva era extremamente hostil à vida e alguns eventos geológicos foram necessários para surgimento da vida. Existiu um período na história evolutiva da Terra onde as condições se alinharam.
Ou seja, a vida na Terra não teria surgido por acaso mas, sim, no momento certo quando as condições ambientais eram favoráveis. O fato da Terra já ter tido um ado onde a vida era impossível indica que outros planetas podem ar por processos semelhantes. A vida poderia surgir em ritmos diferentes, dependendo da evolução geológica e atmosférica de um planeta.
Um dos resultados do artigo é que a habitabilidade da Terra ocorreu em fases que foram chamadas de "janelas de habitabilidade". Essa janelas de habitabilidade aconteceriam quando as condições ambientais se tornaram propícias para a vida. Algumas dessas condições seriam temperatura dos oceanos, níveis de oxigênio e o quanto de nutrientes estava disponível.
Essa janela de habitabilidade para sustentar a vida complexa no planeta Terra é um fenômeno relativamente recente na história do planeta. No artigo, os autores defendem que, em vez de basear previsões na vida do Sol, é melhor considerar escalas de tempo geológicas. A vida se desenvolveria no ritmo ditado pelo próprio planeta, reforçando a ideia de que sua evolução está conectada às transformações ambientais ao longo do tempo.
Mills et al. 2025 A reassessment of the “hard-steps” model for the evolution of intelligent life Science Advances