Os moradores da região de Valais, uma área de estações de esqui e vinhedos, estão acostumados a ver as encostas de suas montanhas cobertas de neve no inverno e pequenas flores brancas no verão. Mas à medida que o aquecimento global se intensifica, mais e mais espécies invasoras são encontradas colonizando essas paisagens: os cactos.
A preocupação é tamanha que o governo local anunciou uma campanha para arrancar essas plantas dizendo: "Amante de climas secos e quentes, essa planta invasora e não nativa não é bem-vinda". E não é para menos, pois segundo estimativas, os cactos Opuntia, na Argentina também conhecidos como Tuna, representam atualmente entre 23% e 30% da cobertura vegetal rasteira da região do Valais.
Si la neige se fait rare en altitude, vous aurez peut-être plus de chance de croiser des cactus. La plante prolifère dans les Alpes valaisannes depuis plusieurs années. Au-delà de l'effet de curiosité, leur présence inquiète car ils menacent l'écosystème. pic.twitter.com/jnQqdC5TLv
— RTSinfo (@RTSinfo) December 26, 2022
Espécies de cactos estão presentes no cantão suíço desde pelo menos o final do século 18, quando foram importadas da América do Norte. Os ambientalistas acreditam que um clima mais quente nos Alpes permite um período de vegetação mais longo. Com a cobertura de neve diminuindo rapidamente, as espécies invasoras podem estar obtendo as condições ideais para se espalhar.
Já existem 9 espécies de cactos que se podem observar nas encostas destas serras, onde competem com a vegetação endêmica, embora apenas 4 delas sejam consideradas uma ameaça. "Quando você tem esses cactos, nada mais cresce", dizem as autoridades. “Cada almofada cobre o solo e impede que outras plantas cresçam.”
Os ambientalistas reconhecem que impedir a proliferação dessa planta invasora não será fácil. Neste momento, estão também a lançar uma campanha de sensibilização para informar e alertar os residentes e turistas sobre os perigos de pisar, cortar e plantar cactos, uma vez que se recuperam e se espalham rapidamente após serem desenraizados.
Nos Alpes, a neve é cada vez mais rara em baixas altitudes. Segundo o relatório, o número de dias com neve abaixo de 800 metros na Suíça caiu drasticamente pela metade desde 1970. Hoje, os Alpes têm um mês a menos de neve do que naquela década.
"Essas espécies aguentam temperaturas de -10°C ou -15°C sem nenhum problema", diz Peter Oliver Baumgartner, professor de geologia especializado em botânica e autor do relatório. "Mas querem estar em um lugar seco e não gostam de neve." Portanto, diminuir a cobertura de neve fornece um ambiente fértil para eles prosperarem.
E o problema não está só na ausência de neve, a temperatura aumentou, em média, 2,4°C desde a era pré-industrial. “Se você olhar para os relatórios sobre mudanças climáticas”, diz Baumgartner, “as curvas de temperatura na Suíça são quase tão íngremes quanto as do Ártico”.